Foto: Hilton Marques
O prefeito de Garanhuns, Sivaldo Albino (PSB), lamentou a posição do governo de Pernambuco de não participar da realização do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) em 2024, mas negou que a prefeitura não tenha buscado diálogo com o Estado para a organização do festival.
A decisão da gestão Raquel Lyra foi anunciada ontem pela secretária Estadual de Cultura, Cacau de Paula, e pela presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Renata Borba, em entrevista ao Jornal do Commercio. Esta será a 32ª edição do festival, a primeira sem participação estadual.
Em entrevista exclusiva ao blog de Jamildo, Sivaldo Albino afirma que foi a gestão Raquel Lyra que nunca procurou a administração municipal para tratar do festival.
“Tudo começou no FIG do ano passado, quando oferecemos R$ 5 milhões para fazer um FIG juntos, de três semanas. Terminou que fizeram um FIG de R$ 15 milhões e não quiseram a nossa participação. Acabou com aquela desorganização que não agradou a ninguém”, disse o prefeito.
O gestor municipal afirma ter buscado o governo Raquel Lyra após o evento de 2023, informando que iria assumir o festival neste ano. Foi quando anunciou as primeiras atrações de 2024, ainda em agosto e setembro do ano passado.
“Procuramos alguns interlocutores para chegar junto da governadora e dialogar sobre a construção conjunta do festival e da participação do governo no Festival Viva Garanhuns. Em 24 de janeiro de 2024, protocolamos ofício, em 7 de fevereiro reiteramos o ofício. Eles marcaram uma reunião para o dia 5 de março”, contou o prefeito.
Na reunião em questão, realizada no Palácio do Campo das Princesas, prefeitura e governo concordaram em organizar o evento em conjunto. Sivaldo e Raquel chegaram a posar juntos de mãos dadas para uma foto.
Nesse acordo, o prefeito afirma que propôs repetir o modelo realizado no evento em 2022, ainda na gestão Paulo Câmara, em que a prefeitura colocaria recursos na festa. Sivaldo propôs um evento de R$ 20 milhões a R$ 22 milhões, com custo dividido em 50% para o governo e 50% para a prefeitura.
Ele também impôs duas condições para o acordo: manter a data do FIG e as atrações. Segundo ele, a prefeitura já havia fechado contrato com 80% da grade para o polo principal. Nesse momento, 13 artistas já haviam sido anunciados.
No dia 14 de março, segundo conta Albino, o governo enviou um termo que dizia que o a administração estadual assumiria toda a realização do FIG, custeando inclusive os contratos que já haviam sido fechados pela prefeitura. Ele negou a proposta.
“A proposta era fazer o FIG compartilhado, manter a grade e construir os demais polos juntos. Quando ela propôs isso, eu disse ‘não’. Não estou aqui para aceitar essa proposta de ‘eu pago’”, disse Sivaldo.
“Eu disse à governadora que precisava anunciar a grade do polo Mestre Dominguinhos (o principal da festa) até o final de março, porque tínhamos contratos que precisavam ser publicados no Portal da Transparência. Mas fomos ignorados, ninguém nos procurou”, acrescentou.
Sivaldo conta que o respondeu o ofício do governo negando a proposta, sem enviar os contratos com os artistas. Depois disso, ele afirma não ter mais recebido contato do governo do Estado.
“Absolutamente ninguém do estado nos procurou, e não dá para esperar o Governo e a Fundarpe chegar na véspera e dizer ‘tá aqui'. Esperei até o final do ano e isso não aconteceu. Eu que fui procurar em janeiro para, no final, ter esse momento. Aí não aceitamos”, contou. “O governo podia deixar a vaidade de lado, deixar de ‘mimimi’”, completou.
“Isso não é o FIG”
O prefeito também rebateu o comentário feito pela presidente da Fundarpe, que afirmou que o modelo de Sivaldo “não é o FIG”.
"A governadora praticamente disse ‘ou faz do nosso jeito ou não faz’. Esse discurso de que não teve diálogo não existe. A Fundarpe dizer ‘isso não é FIG’, me desculpe, mas aquilo que eles fizeram no ano passado é que não é o FIG", rebateu Sivaldo.
“Tudo que a gente faz tem planejamento e responsabilidade. Sei do tamanho do desafio e das dificuldades financeiras”, contou o prefeito, afirmando que o FIG 2024 terá custo de R$ 15 milhões a R$ 16 milhões.
Parte do valor será bancada por uma empresa privada vencedora de uma licitação de captação de recursos. Essa companhia destinará entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões. O restante será captado junto a outras fontes.
O governo do Estado não disponibilizará os R$ 17 milhões que previa para atrações e apoio estrutural que eram de responsabilidade da gestão em outros anos.
“Estamos buscando outros órgãos de apoio, como ministério do Turismo, ministério da Cultura, emendas parlamentares para ajudar, e vamos conseguir. O restante é o município que vai arcar. Tempos pelo menos 90 dias para trabalhar nisso”, disse o prefeito.
“O FIG é um evento nacional que precisa ser vendido. Vou dar como exemplo o São João de Caruaru e de Campina Grande, que hoje têm 70% a 80% bancados pela iniciativa privada, parcerias e órgãos”, completou.
Edital convocatório de artistas
Ontem, Renata Borba também também criticou a contratação de músicos sem o edital de convocatória, normalmente lançado pelo governo em parceria com a prefeitura, e pela pouca presença de pernambucanos na grade principal.
Sivaldo disse que ainda haverá a convocatória de artistas neste mês de abril, e que nos demais palcos do festival haverá a presença de artistas de Garanhuns e de Pernambuco.
“Não tem uma lei que diga que tem que fazer a convocatória com artistas nacionais antes da divulgação. Mas teremos um artista da cidade em todas as noites ou de Pernambuco em algumas noites, que vão participar dentro dessa convocatória”.
“Não poderíamos esperar a boa vontade do governo para quando estivesse faltando duas semanas do festival estarmos anunciando a grade. No ano passado, faltando três dias para o festival a organização estava buscando atração para anunciar porque não tinha”, alfinetou.
Diálogo não está encerrado
Reiterando em vários momentos que o governo Raquel Lyra nunca procurou a prefeitura para abrir diálogo sobre o FIG, Sivaldo Albino revelou que as portas do festival não estão fechadas para a gestão estadual.
“Não se faz política pública com imposição. A gente vai dar um tempo e aguardar. Da nossa parte, o diálogo não está encerrado. Anunciamos somente o polo principal, mas nada impede a participação do governo do Estado nos demais. Não temos essa vaidade de dizer que a realização é do município. Temos outros polos para construir juntos, mas precisamos de uma resposta rápida”, falou Sivaldo.
Propaganda de deputados nas peças oficiais
Um detalhe que chamou a atenção nas peças oficiais de divulgação do FIG lançadas pela prefeitura é a exibição de logotipos dos deputados federais Carlos Veras (PT), como patrocinador, e Felipe Carreras (PSB), como apoiador do evento.
Os parlamentares são responsáveis por conseguir recursos para o festival. O prefeito negou que haja propaganda partidária nos banners.
“Estamos fazendo justiça com quem tem ajudado o festival. Não é ano eleitoral para deputado, é ano eleitoral para vereador e prefeito. Não poderia ter o meu nome, por exemplo”, afirmou Sivaldo.
“Foram eles que articularam apoio do Governo Federal ao festival. Foi por meio de Felipe Carreras, por exemplo, que chegamos ao ministério do Turismo. O FIG, com todo o respeito aos demais festivais, não é uma festa, é um evento multicultural que propaga a cultura pernambucana e brasileira. Não queremos politizar isso”, finalizou.
Informações: Blog do Jamildo
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