Metamorfoses, sentidos em colapso, novas possibilidades de ser e estar no mundo. Os processos de transformação da existência humana são tema do novo trabalho do cantor e compositor pernambucano Lucas Torres. Expoente da música pop em Pernambuco, o artista lançou nesta quinta-feira (25/03) o EP “Corpóreo” no qual mergulha ainda mais fundo nas experimentações sonoras e estéticas para cantar o existir e questionar padrões sobre o corpo humano.
O álbum reúne cinco faixas. Poemas musicados que apresentam as inquietações de um humano híbrido - ao mesmo tempo que é animal, é também máquina. A narrativa musical, através de sonoridade eletrônica desconstruída, ruidosa e cheia de texturas, faz a ponte entre natureza e tecnologia para contar as etapas da metamorfose do ser, pautando discursos do corpo livre, da ageneridade, do empoderamento LGBTQIAP+ e da autoaceitação.
Todas as músicas foram compostas por Lucas Torres, com direção musical do próprio artista e de Sam Silva, musicista parceira do cantor, e produção de Wagner Melo. Os três já trabalhavam juntos executando pelos palcos pernambucanos o repertório de “Signoser” (2018), primeiro álbum de Lucas, produzido pelo músico Juliano Holanda e vencedor de “Melhor Álbum Pop” pelo 10º Prêmio da Música de Pernambuco (2019). Durante a pandemia, o trio se encontrou remotamente para experimentar e dar vida a “Corpóreo”.
Se em “Signoser” Lucas já trazia reflexões existencialistas, em “Corpóreo”, o artista vai mais além - radicaliza ao propor desconstrução das estéticas musicais convencionais e amplifica a sinestesia, uma metáfora musical para a diversidade inerente no ser humano. “São músicas baseadas em minhas vivências pessoais, reflexões de autoconhecimento enquanto artista e ser humano”, conta o cantor, que teve como inspiração para o projeto a sonoridade de artistas como Bjork, Arca, Sevdaliza, Jup do Bairro e Maria Beraldo.
Entrecortando referências de trilha sonora de ficção científica, de artes plásticas, design e futurismo, “Corpóreo” é um álbum conceitual produzido totalmente no interior de Pernambuco. De construção imagética e experimental, a obra coloca tecnologia, ciência, espiritualidade e filosofia no mesmo patamar. É musicalidade eletrônica de muitas camadas, de entrelinhas, para sentir, apreciar e refletir.
“É um álbum para dizer às pessoas que não tenham medo de ser quem são, que não se atenham a rótulos ou limitações do corpo. Fala principalmente sobre autoaceitação e empatia com o próximo. É hora de romper os casulos e renascer”, exalta Lucas. O EP “Corpóreo” foi produzido com incentivo da Lei Aldir Blanc em Pernambuco, através da Fundarpe, Secretaria Estadual de Cultura, Governo de Pernambuco e Governo Federal.
O ÁLBUM - “Corpóreo” abre com “Simbiótico”, faixa totalmente instrumental com altas doses de psicodelia eletrônica, que apresenta o conceito da obra. Em “Metamorfo”, a voz do cantor se apresenta para falar de renascimento. Em vez dos costumeiros timbres agudos da música pop, estão os tons de barítono de Lucas. Preenchida por camadas de distorção e ressonância, a voz é embalada por melodias secas que privilegiam tons graves, batidas eletrônicas e sonoridades em referência à estética industrial e ao lo-fi.
Canção mais pop do álbum, “Transitório” convida a dançar ao mesmo tempo em que reflete sobre a efemeridade da vida e a liberdade de ser. “Não alimente a matriz, não multiplique padrões”, diz a letra. A ruidosa “Reprogramado” revela ira e revolta contra os sistemas opressores - o corpo se autoafirmando como instrumento político e social. “Hospedeiro” encerra a obra como um chamado à transcendência, ao despertar coletivo, regido pela energia do amor.
Com atuações também na área de design, Lucas Torres assina não apenas a autoria e a direção musical das canções, como também a arte da capa do EP, feita sobre fotografia de Ilton Ferreira. Em mais de 15 anos de carreira, passando por estilos da música regional ao rock progressivo, Lucas - que já planeja o próximo disco de carreira - se consagra como ícone do pop experimental de conceito, produzindo uma das sonoridades mais inventivas e originais de Pernambuco nos últimos tempos.
SOBRE O ARTISTA - Natural de Goiana/PE, Zona da Mata Norte de Pernambuco, Lucas Torres é cantor, compositor, performer e instrumentista LGBTQIAP+. Uma figura intensa e cheia de personalidade que desponta no cenário da música brasileira - lançou seu primeiro disco “Signoser” em 2018, com o qual realizou shows, participou de festivais e promoveu uma turnê pelo interior do Estado, apoiada pelo Funcultura. Além do projeto autoral solo, participa da Mostra Reverbo - movimentação que une cantautores em Pernambuco - e do projeto Tertúlia - quarteto de poesia e música de sua terra natal.
Contabiliza três videoclipes de carreira e uma infinidade de shows entre Paraíba, Pernambuco e Sergipe. Já se apresentou ao lado de nomes como Almério, Karynna Spinelli, Martins, Isaar, Juliano Holanda, Romero Ferro, Luna Vitrolira, Paulo Neto e Rubi. Já abriu shows de nomes como Vanessa da Mata, Silvério Pessoa, Mundo Livre S/A e Zé Manoel. Durante a pandemia, realizou várias lives, entre elas pelo projeto Sesc PE #CulturaEmRede, Ágora Sonora e o Festival + (com artistas LGBTQIAP+).
>> Ouça o EP “Corpóreo”, de Lucas Torres
Disponível em todas as plataformas digitais neste 25 de março
https://tratore.ffm.to/
Milton Raulino
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