O Plenário do Senado aprovou o Projeto de Lei (PL) 4.372/2020, que regulamenta, já a partir de janeiro de 2021, como devem ser aplicados os recursos do novo Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), agora de caráter permanente. Com a aprovação, o texto volta à Câmara dos Deputados, pois foi alterado no Senado.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já adiantou que votará a proposta
ainda nesta semana, pois a regulamentação precisa ser aprovada este ano para
que os recursos do Fundeb, que chegaram a R$ 160 bilhões em 2020, possam ser
direcionados a estados e municípios já a partir de janeiro de 2021, devidamente
reajustados.
Escolas públicas
O relator, senador Izalci Lucas (PSDB-DF), optou por resgatar o texto
original apresentado pelo deputado Felipe Rigoni (PSB-DF), relator na Câmara.
Isso porque no plenário da Câmara o texto passou por alterações, abrindo a
possibilidade de que escolas privadas, como as vinculadas ao Sistema S, as
confessionais, comunitárias e filantrópicas, também recebessem recursos do
Fundeb. Mas esta possibilidade sofreu forte rejeição no Senado e, após
negociações, optou-se por aprovar a versão final de Izalci Lucas, reservando o
Fundeb para a educação pública.
— Aqui preservam-se os recursos para a escola pública. A Câmara distorceu um
pouco, colocando recursos do Fundeb para pagamento de folha até de
terceirizados de escolas públicas, assim como nas escolas confessionais e
comunitárias. Estamos tirando isso, e também o Sistema S. O Sistema S pode
fazer convênio com qualquer estado ou município, desde que não seja com
recursos do Fundeb. Então vai continuar fazendo o que vem fazendo. Da
mesma forma, as escolas comunitárias e confessionais — explicou Izalci.
Segundo dados da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE),
apresentados pelo senador Paulo Paim (PT-RS), o texto, como saiu da Câmara,
tiraria, já a partir de 2021, R$ 16 bilhões do ensino público. Tal
possibilidade foi rejeitada pelos senadores. O texto de Izalci foi aprovado de
forma unânime, em votação simbólica.
— Seria um golpe sem precedentes contra a escola pública e seus
profissionais. O ensino privado, que já recebe R$ 6,7 bilhões de dinheiro
público, teria mais R$ 16 bi do Fundeb, reajustado anualmente. Uma farra. É a
escola pública que atende mais de 80% dos estudantes brasileiros. Com
menor investimento no Fundeb, os mais pobres pagariam a conta outra vez —
afirmou Paulo Paim.
O senador Sergio Petecão (PSD-AC) manifestou opinião semelhante.
— Se for aprovado o texto como veio da Câmara, vai ser o caos. Milhares de
prefeitos não vão poder pagar a folha de pagamento dos professores. É isso o
que eu ouvi desde a semana passada no Acre — disse.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) foi na mesma linha.
— Uma das poucas boas notícias que o Brasil comemorou em 2020 foi
transformarmos o Fundeb em um fundo permanente, passando de 10% para 23% o
percentual de participação da União. Isso representa R$ 12 bilhões. Mas o texto
da Câmara, como veio, retira todo este avanço e um pouco mais. Ou seja, demos
com uma mão e estávamos retirando com duas — afirmou Simone Tebet.
O presidente da Comissão de Educação (CE), senador Dário Berger (MDB-SC),
ressaltou a penúria de grande parte das escolas públicas.
— 26% das escolas públicas ainda não têm fornecimento de água tratada.
5% não têm ligação de energia elétrica. 60% não têm ligação de esgoto com a
rede pública. 70% não têm bibliotecas e 33% não têm internet. Então o Fundeb
tem que ir exclusivamente para o ensino público e seus 2,5 milhões de
professores e professoras. Precisamos recuperar o atraso estrutural — apelou
Dario Berger.
O senador Esperidião Amin (PP-SC) conclamou a população a manter a pressão
sobre os deputados para garantir os recursos à escola pública.
— A guerra não terminou, porque na Câmara as mesmas forças que
alteraram o texto original estarão presentes. Apelo à sociedade civil, que
buscou os senadores, nos mandaram milhares de mensagens para que resgatássemos
o texto original, para que continuem a batalha agora na Câmara. Vocês
precisam estar vigilantes — alertou Esperidião Amin.
Também o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, apoiou o relatório de
Izalci. "Após a manifestação de representantes do setor da educação e
parlamentares, o Senado Federal reverteu as modificações feitas pela Câmara ao
texto de regulamentação do Fundeb. Os senadores garantiram a destinação de
recursos para o ensino público do país, área que mais carece", escreveu no
Twitter.
Distribuição de recursos
No relatório, Izalci Lucas destaca que a regulamentação do Fundeb garante,
dentro de cada estado, maior equidade na distribuição do dinheiro, beneficiando
as cidades com menores possibilidades financeiras. O texto ainda reserva 50%
dos recursos para a educação infantil.
O projeto cria o Valor Aluno/Ano Resultado (VAAR), determinando que 2,5% da
complementação da União devem ser distribuídos às redes educacionais que
tiverem melhorias nas taxas de atendimento e no aprendizado, e redução das
desigualdades de aprendizado.
Outro indicador determinado pelo projeto é o do Valor Aluno/Ano Total
(VAAT), que redistribui o dinheiro diretamente nas redes educacionais que têm o
Valor Aluno/Ano menor. Entre as condicionalidades para receber os recursos,
estarão o compromisso contra a desigualdade racial, a distribuição do ICMS de acordo com resultados
educacionais, e a aprovação de currículos alinhados com a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC).
Fonte: Agência Senado
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