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Após um hiato de 08 anos, uma das maiores bandas da cena musical brasileira, Cordel do Fogo Encantado, está de volta com Lirinha (voz e pandeiro), Clayton Barros (violão e voz), Emerson Calado (percussão e voz), Nego Henrique (percussão e voz) e Rafa Almeida (percussão e voz). A notícia extremamente festejada por fãs, cenário da música e amigos ganhou destaque em toda a mídia brasileira. Não por acaso, a banda Cordel do Fogo Encantado, que nascia em Arcoverde, cidade do interior de Pernambuco, em 1997 e ganhava o Brasil a fora está de volta. A banda volta ao cenário musical brasileiro com repertório do seu mais novo disco intitulado " Viagem ao Coração do Sol". O disco foi produzido por Fernando Catatau, traz canções que ficaram guardadas e outras que foram compostas no último ano. "Fizemos uma opção estética de não sermos um grupo de releitura ou de glorificação do passado. As novas letras vão dialogar com os sentimentos humanos, com aquilo que nos cerca. Já musicalmente, o Cordel mantém a característica de sempre surpreender", diz Lirinha.
Gravado no Estúdio El Rocha, em
São Paulo, e em Fortaleza no Totem Estúdio, o disco será uma continuidade no
processo criativo da banda. "A
mística que envolve o Cordel se manteve suspensa durante esses anos.
Inicialmente, éramos um grupo de teatro, o nome da banda era o título de um
espetáculo sobre o fogo encantado. No nosso primeiro disco contamos este
cordel, ou seja, esta história. Depois falamos de um palhaço de um circo sem
futuro, uma metáfora da existência humana, e, por fim, na turnê do álbum
Transfiguração, apresentamos um cenário que se recolhe para uma espécie de
pausa, algo bem significativo para o momento em que se deu, mesmo não sendo
planejado", conta o vocalista. Portanto, para a volta do grupo, serão
apresentados elementos que remetem a essa narrativa do terceiro disco, "agora é momento de sair para o sol,
florescer, caminhar em direção à luz, sair de dentro da terra, rasgar o casulo",
completa Lirinha. Na iluminação de palco, contam com um antigo parceiro da
banda, o iluminador Jathyles Miranda, que acompanha o grupo desde o início.
A capa do disco foi desenvolvida
pelo estúdio de design Savia Design & Branding e traz diferentes
elementos, como a luz, o raiar, o vento e o otimismo representados na forma de
um personagem, uma vez que esses símbolos transitam por todo o disco. "Criamos uma figura de luz, uma persona do
movimento, que nasce da terra como um sopro de otimismo e cor",
comenta Lucas Bacic, que assina a direção criativa ao lado de Lucas Falcão.
A volta
O grupo costumava dizer, nos
tempos de Cordel, que a banda só iria acabar se o fogo, elemento vital que os
uniu, se extinguisse. Em 2010, quando anunciou sua saída do grupo, Lirinha o
fez por motivos pessoais: "Estava há
13 anos sem pausa no Cordel e senti uma necessidade pessoal de experimentar
outras formas de compor. Mas o fogo se manteve aceso, as pessoas que admiravam
o trabalho não deixaram a chama se apagar". Então, ficou sempre uma
esperança. "Quando nos
reencontramos, parecia que estávamos apenas continuando um assunto que tinha
ficado no ar. Não teve nenhum estranhamento, somos como uma família,
descobrimos muitas coisas juntos. Com certeza é uma retomada em um mundo bem
diferente, nós também mudamos, mas a essência permaneceu", conta o
líder do grupo que lançou dois discos em carreira solo, Lira (2011) e O Labirinto e o
Desmantelo (2015).
A decisão de reunir a banda
novamente foi há 01 ano, mas ao longo dos 08 que se passaram tiveram diversos
momentos que foram como sinais de que a volta era só uma questão de tempo.
Lirinha lembra do velório de Naná Vasconcelos, ano passado. Considerado uma
autoridade mundial na percussão, o músico pernambucano foi um dos padrinhos do
Cordel do Fogo Encantado, uma vez que produziu o primeiro disco da banda e
também por tê-los incentivado a criar uma nova linguagem para a música. "Então, quando estávamos reunidos no dia em
que ele faleceu, comentamos que tínhamos que voltar para cantar para Naná",
relembra Lirinha. E completa: "Alguns
momentos me deram muita saudade do Cordel, foi quase impossível não pensar
neste retorno. Queria muito que Naná tivesse visto a volta, então, a morte dele
mexeu comigo".
Outro compositor do grupo,
Clayton Barros, que lançou o disco A
Idade dos Metais com a banda Os
Sertões em 2012, comenta que a possibilidade da volta sempre existiu e
quando foi definida eles se mantiveram calados trabalhando em um planejamento
que se concretiza em 2018. "Foi um pouco estranho ter que omitir
sobre a volta e, ao mesmo tempo, estar no estúdio gravando. Tudo isso trouxe
uma questão emocional que tive que lidar. E agora estou na expectativa de como
vai ser, afinal, o mundo mudou bastante desde que anunciamos o fim da banda.
Estou bastante curioso para ver o que vem por aí", diz.
Já
Emerson Calado, um dos percussionistas do grupo, conta que foi um
período importante para que cada integrante pudesse afirmar as próprias
identidades. Desde 2010, ele trabalhou em diferentes projetos, como a banda
Nume, e foi o
responsável pela direção musical do espetáculo de teatro mineiro Teia, dentre
outras iniciativas.
Parceiro de Emerson na percussão, Nego
Henrique participou de alguns projetos sociais, estudou produção e direção
musical, e o destaque fica para o projeto de canto negro com a cantora e
produtora cultural Karynna Spinelli. Juntos cantam em iorubá, na linha de
terreiro de candomblé.
O terceiro percussionista, Rafa
Almeida, que tinha 17 anos quando entrou na banda, conta que estava esperando
pela volta há dois anos. "Sinto que
o Recife, e até uma parte do Brasil, perdeu um pouco sem a música do Cordel,
que é tão forte", diz. E completa: "Está sendo muito bom voltar a tocar, as
músicas antigas e novas, enfim, é algo muito grande, viver esse novo momento é
inexplicável. E estamos com a mesma energia".
Durante este tempo, Rafa tocou e gravou discos com Vitor Araujo, além de fazer
participações especiais, tocando com Karynna Spinelli, João do Morro, Lucas dos
Prazeres, dentre outros.
Quando a banda surgiu, em 1999, viu de perto o fim do
poder das grandes gravadoras e em 2018, voltarão em um universo bastante
diferente em várias frentes, incluindo novas formas de divulgar e consumir
música. "A obra do Cordel se tornou
rara, pois não lançamos o trabalho nas plataformas de streaming e nem fizemos
novas prensagens dos álbuns", comenta Lirinha. Inclusive, a procura
pela discografia foi também uma das motivações para a volta: "a procura é bem grande, sempre recebemos
mensagens de fãs nos perguntando sobre os discos, foi aí que começamos a
entender a importância da história do grupo. Então, fomos convocados a nos
mexer e organizar tudo", diz o compositor.
Informações: Ana Garcia
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