O poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto , nasceu no Recife, 09 de janeiro de 1920 e faleceu no Rio de Janeiro, em 09 de outubro de 1999. João foi um dos poetas mais cerebrais do Brasil. Mais racionais, preferia ver o escrever como um ofício, se recusando a utilizar de inspirações passageiras ou sonhos. Era avesso a utilizar a poesia para campanha política e inaugurou uma nova forma de escrever poesia no Brasil.
O poeta que escreveu clássicos como Morte e Vida Severina, Tecendo a Manhã e Catar Feijão, mostrou a força e a luta do pernambucano nas suas palavras e nos orgulha até hoje pelo legado deixado por ele.
Conheça Catar Feijão
João Cabral de Melo Neto
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
2.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.
Amannda Oliveira
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