Noite contou com a presença de familiares do músico Belchior, que é um dos homenageados desta 27ª edição do festival, ao lado de Hermilo Borba Filho
e Ariano Suassuna
Foto: Rodrigo Ramos/Secult-PE
Uma noite de abertura para ficar na história do Festival de Inverno de Garanhuns. O tom de emoção tomou conta da primeira noite da 27ª edição do FIG, que lotou nesta quinta-feira (20) o Teatro Luiz Souto Dourado para receber homenagens ao cantor cearense Belchior e presenciar ao vivo a leveza musical transmitida pela voz da pernambucana Isadora Melo. Uma apresentação de tirar o fôlego, acompanhada de nomes fortes da música pernambucana, como Rafael Marques (bandolim), Julio César (acordeon), Rogê Victor (baixo acústico) e Juliano Holanda (guitarra), além das participações mais que especiais de Maurício Tizumba (MG), Lui Coimbra (RJ) e Mona Gadelha (CE).
A noite contou com a presença de diversas autoridades do estado, como Márcia Souto, presidente da Fundarpe; Marcelino Granja, secretário estadual de Cultura; o deputado estadual Waldemar Borges, representando o governador Paulo Câmara; o reitor da UPE, Pedro Falcão; e colaboradores do SESC e Conservatório Pernambucano de Música. Familiares de Belchior, vindos a convite do festival de São Paulo e do Ceará, também participaram da cerimônia.
Para Marcelino Granja, o Festival de Inverno de Garanhuns é um acontecimento social que representa a confraternização dos vários estados do Nordeste. “A gente recebe nessa época do ano pessoas vindas de Alagoas, da Paraíba, do Rio Grande do Norte, de Sergipe e vários outros lugares. Fico feliz pela realização desta edição porque temos a certeza de que esta é uma das melhores programações dos últimos tempos, construída num cenário de crise financeira em todo o país”, ressalta o secretário estadual de Cultura.
“Estamos homenageando três grandes nomes da cultura brasileira: Belchior, Ariano Suassuna e Hermilo Borba Filho, personagens que compartilhavam um mesmo ideal, a esperança num mundo melhor. E a programação do festival, construída com o empenho de todos que fazem a Secult e a Fundarpe, com base na convocatória que foi aberta aos artistas do estado e do país, reflete bem essa marca de buscar um novo tempo. Que este FIG seja um festival de paz e alegria, mas também de muita luta e valorização da nossa cultura”, comemora Marcelino Granja.
De acordo com Márcia Souto, o Festival de Inverno de Garanhuns traz uma maturidade em relação ao atual momento que o Brasil vive. “A programação nesta edição tem um diferencial porque abraça a cultura pernambucana com mais força, valorizando os artistas locais e a cultura popular. Neste último caso, vale registrar que o palco voltado aos nossos mestre e manifestações típicas do estado está recebendo o nome do nosso saudoso Ariano Suassuna. Temos também algumas outras novidades, como a participação da cultura hip-hop no Parque Euclides Dourado e a parceria com o Consulado da França, que fez uma formação com artistas circenses do estado. Outro fato inédito é que esta é a primeira vez que vai acontecer por aqui um encontro de festivais, através da realização da Plataforma FIG, que trará realizadores dos maiores eventos de música do país, como o Rock In Rio, para conhecerem nossos artistas”, ressalta a presidente da Fundarpe.
O prefeito Isaías Régis se mostrou bastante animado ao falar do valor que Festival de Inverno tem para a cidade de Garanhuns. “Quem quiser cultura se prepare porque aqui nós temos de sobra. A cidade está completamente lotada para receber mais uma edição, e neste sentido agradecemos a parceria com o Governo do Estado. Eu digo que este é o maior festival de cultura e arte da América Latina. Não é porque sou prefeito daqui que falo isso, é por experiência própria. O FIG dá de cem a zero em todos os outros festivais de inverno porque aqui tem a cultura pra todos os gostos, além de ser um retrato da nossa vida e da cara de Pernambuco”.
Foto: Rodrigo Ramos/Secult-PE
Filhos de Belchior se emocionam com homenagem – Após as falas das autoridades, Camila Belchior e Mikael Belchior, filhos do cearense homenageado este ano no FIG, subiram ao palco para receber uma honraria em nome da família. Muito emocionados, preferiram não discursar, mas Ângela Belchior, irmã do músico falecido, descreveu a sensação da família. “Estamos muito honrados com o carinho do festival através desta homenagem. Aqui é um momento de encontro da juventude, uma coisa o que o Belchior adorava, e é sempre gratificante estar entre esse público. Esperamos que as mudanças tão propagadas pelo nosso Belchior aconteçam de fato. Que os nossos sonhos permanecem vivos, assim como ele, que está aqui entre nós, nos nossos corações”, disse ela, que se considera uma das incentivadoras de Belchior como artista. “A gente viajava muito quando éramos mais novos. E vivíamos nos movimentos sociais, principalmente o estudantil. Isso tudo em 1966, em plena efervescência social no Brasil. Teve uma situação que foi bem legal, quando consegui fazer com que o Belchior cantasse num evento no Campus da Universidade Federal do Ceará. Pense numa loucura que foi ver aquele lugar cheio de gente. Ele adorava estar no meio dos jovens”, relembra.
Dando sequência à noite de celebração da música e com grande expectativa por parte do público, Isadora Melo iniciou sua apresentação com a canção que dá nome ao seu novo espetáculo Vestuário. Brincando com o silêncio, numa performance em que transparecem a delicadeza e a segurança que a cantora tem com a própria voz, a apresentação abre mão da sonoridade percussiva para ambientar – com a melodia dos acordes e até o silêncio de Isadora – todos os espaços da música.
Neste sentido a interação do público também integra o corpo musical da apresentação. A plateia esteve bastante ativa, soltando uma "canja" ao lado de Isadora e com palmas e assobios. Mas sem dúvidas uns dos momentos mais marcantes da noite foi quandoVestuário levou ao palco participações especiais transformadas numa apresentação à parte através da voz imponente de Mona Gadelha, da sagacidade do violoncelista Lui Coimbra ou toda a africanidade do genial Maurício Tizumba – que instigou a plateia ao subir com chocalhos amarrados aos pés e soltar sua voz.
Canções autorais e que compõem seu primeiro disco, como Canção Bonita e Partilha, além das interpretações já habituais, – Pra Marte (Maurício Pereira) e Caso Você Case (Vital Farias) – fizeram parte do espetáculo que contou com a iluminação caprichosa de Natalie Revoredo. “Eu fico muito feliz com esse convite da Fundarpe para participar da noite de abertura deste festival que tenho vivido com muita intensidade nos últimos anos. É uma honra poder estar neste palco, dividindo-o com pessoas tão especiais pra mim”, pontuou Isadora ainda no palco, sob aplausos da plateia.
Marcus Iglesias
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