Secas e estiagens representam a categoria de desastres naturais com maior registro de ocorrências no país, representando cerca de 70% dos municípios atingidos por algum desastre em 2013. Isso significa que 12 milhões de pessoas foram afetadas pela seca nesse ano. Um estudo recente, que utiliza projeções do clima futuro, indica que a tendência é haver o aumento da frequência e severidade das secas em praticamente todo o território nacional. Neste trabalho, uma das conclusões é que a região Centro-Oeste deve ser uma das mais impactadas, com clima ainda mais quente e diminuição das chuvas para as próximas décadas.
Estes e outros dados estão no estudo Índice de Vulnerabilidade aos Desastres Naturais relacionados às Secas (IVDNS) no Contexto das Mudanças do Clima, que o WWF-Brasil, o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Integração lançam nesta quarta-feira, 12 de julho, com apoio da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ). A análise da vulnerabilidade do Brasil traz uma visão integrada do desastre, tendo como ponto de partida um índice composto por variáveis e subíndices que fazem sua representação em três dimensões: i) climática; ii) socioeconômica; e iii) físico-ambiental.
De acordo com Everton Lucero, secretário de Mudança do Clima e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, o material surgiu como uma resposta à lacuna de estudos sobre a vulnerabilidade do país às secas e estiagens no contexto da mudança do clima, visando contribuir para o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA), cuja discussão começou em 2013 e culminou no seu lançamento, em 2016.
“O estudo traz uma metodologia inédita que quantifica a vulnerabilidade dos municípios brasileiros aos desastres decorrentes de secas. O resultado deste trabalho pode contribuir com a gestão de risco para este tipo de desastre, já para os próximos anos, mas também subsidiar as estratégias de adaptação que visam minimizar os impactos da mudança do clima nas próximas décadas”, comenta Lucero. Ainda de acordo com ele, com o estudo “será possível até mesmo contribuir para a elaboração ou revisão de iniciativas e políticas públicas relacionadas ao tema”.
O pesquisador Pedro Ivo Camarinha, um dos autores do trabalho, ressalta que a importância deste estudo não se faz apenas pela avaliação do clima futuro, mas principalmente por relacionar características ambientais, socioeconômicas e demográficas para entender o quão vulnerável os municípios brasileiros são. Segundo Camarinha, com este tipo de análise integrada foi possível identificar que em alguns locais o clima não é o grande vilão da história, como se pensava. “Em algumas regiões do Nordeste brasileiro, por exemplo, grande parte de desastres pode ser explicado pela falta de capacidade das populações em lidar com as situações de secas, característica esta explicitada pelos baixos índices de desenvolvimento humano (IDH), pela taxa de analfabetismo, pela desigualdade social, e problemas com a gestão do uso do solo e da água. Já no Sudeste, apesar das mudanças do clima serem, em geral, mais amenas, a alta concentração demográfica e problemas de gestão dos recursos hídricos podem resultar em grandes impactos, mesmo com pequenas alterações nos padrões climáticos”,
comenta.
Para o coordenador do programa Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, André Nahur, este estudo contribui com elementos para que nos preparemos melhor para as consequências inevitáveis da mudança do clima. “Amenizar os efeitos da seca com ações de adaptação é uma questão econômica e social. Entender onde está o problema e todos os fatores a que ele está relacionado contribui para que governo e sociedade possam tomar ações mais efetivas, comenta.
Nahur destaca que este é o primeiro passo para as discussões sobre adaptação aos impactos das secas futuras e espera que o estudo publicado sirva de base para outros estudos regionais e locais. “Estes resultados trazem uma visão geral do território brasileiro. O objetivo principal foi encontrar as áreas mais críticas e conhecer as características mais relevantes para a discussão. O ideal é que este tipo de análise seja replicado futuramente, considerando também as especificidades locais para, assim, promover medidas de adaptação mais eficientes”. |
0 Comentários