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Conversando sobre Suicídio


Psicólogo Luís Massilon Filho - CRP: 02/16085
CLIPA – Clínica de Psicopedagogia de Arcoverde
Rua Sérgio de Souza Padilha, 19 – Alto Cardeal

Arcoverde/PE – Fones: (87) 3822.1321 / 9.9903.0064

conversando sobre SUICÍDIO


De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), suicidam-se, por dia, 3 mil pessoas. Uma a cada 40 segundos. E, por cada pessoa que se suicida, 20 ou mais cometem tentativas de suicídio. Estima-se que, em 2020, o número de suicídios atinja 1,5 milhões por ano. Apresentamos aqui algumas informações importantes. 
O que leva ao suicídio
Definido pela OMS como um ato deliberado, iniciado e levado a cabo por um indivíduo com pleno conhecimento ou expectativa de um resultado fatal, o suicídio é, possivelmente, o ato mais perturbador e intrigante do ser humano. Normalmente, o suicídio é equacionado como a forma de acabar com uma dor emocional insuportável causada por variadíssimos problemas, sendo frequentemente considerado como um pedido de ajuda. As razões que levam o indivíduo a violar o instinto primário da sobrevivência são difíceis de compreender. As teorias recentes defendem que pode haver uma predisposição individual para o suicídio, que é ativada, ao longo da vida, por experiências negativas precoces (experiências traumáticas) que vão dar origem a um padrão de pensamento negativo. Os números apontam-nos um grande culpado. Mais de 50% das pessoas que se suicidaram sofriam de depressão. Contudo, José Manuel Temóteo, psiquiatra, explica que o quadro depressivo não está sozinho no banco dos réus. “O suicídio pode constituir uma reação de inadaptação a uma mudança ou um ato de vingança que sublinha o rancor”, refere o médico. Independentemente das causas, o suicídio resulta sempre da consolidação de emoções negativas e de estresse. Situações de separação, divórcio, luto recente, solidão, desemprego, mudança ou perda recente de trabalho, problemas escolares ou laborais, doença grave ou crônica e dependência de drogas e álcool podem, efetivamente, resultar numa resposta negativa e conduzir ao suicídio. “O que encontramos nos suicidas é a associação de um alto grau de desesperança a uma grande incapacidade de resolver problemas”, afirma o clínico.
Questão psicológica
O perfil psicológico do indivíduo desempenha um importante papel na forma como reage às circunstâncias que lhe vão sendo oferecidas ao longo da vida. Há, no fundo, um mecanismo de adaptação que se cumpre de forma mais adequada ou menos adequada e que pode, inclusivamente, ser variável ao longo do tempo.
A morte como solução para todos os males
A vida é impermanente, a capacidade de adaptação às circunstâncias pode ser bastante variável. O que acontece no suicídio é que a morte consolida a solução, petrifica a vida, terminando-a. O suicídio é o ato mais individual do ser humano. Contudo, como qualquer fenômeno humano, implica um entendimento biopsicossocial. Para lá das características psicológicas do indivíduo, há que ter em conta as suas dimensões sociais e biológicas. O isolamento, a sensação de desintegração social e de não pertença detém um peso significativo na decisão suicida.
O que revelam os números
Os índices revelam que as pessoas sozinhas, solteiras, divorciadas ou viúvas se suicidam mais do que as outras. Pessoas com redes sociais de apoio, com família próxima e amigos chegados, que estabelecem laços fortes têm mais hipóteses de receber ajuda no caso de estarem em crise. Além disso, a existência de padrões sociais no suicídio indica que há critérios de sazonalidade, geográficos, laborais, de gênero (feminino e masculino), etários, entre outros, a ter em linha de conta. Há ainda indicadores que apontam para a existência de um importante fundo genético na questão suicida. Por um lado, porque o suicídio se encontra relacionado com a doença mental grave, muitas vezes de natureza hereditária, por outro porque há evidência de histórias familiares de suicídio. A revista Time refere que foi recentemente identificado um gene (SKA2) bastante importante no controle dos sentimentos negativos e no controle da impulsividade que, por este motivo, pode interferir na ideação suicida.
Ato planejado ou impulso fatal?
O suicídio pode demorar a ser pensado e planejado ou constituir um ato impulsivo, consumado num momento. A impulsividade é um dos fatores mais importantes no suicídio, uma vez que a rapidez com que se passa do pensamento ao ato pode constituir um fator de risco acrescido. Nos jovens, a impulsividade detém um importante papel. Os adolescentes vivem com grande intensidade o momento presente, não tendo grande capacidade para se projetarem no futuro. Interessa o agora, com toda a carga positiva e negativa que o agora detém. Os dados estatísticos indicam que, em comparação com o restante da população, os adolescentes apresentam uma elevada taxa de tentativa de suicídios, mas uma menor taxa de suicídios consumados. Quadros de depressão, abuso de substâncias tóxicas, esquizofrenia, doença bipolar e outras perturbações mentais estão presentes em grupos que revelam um maior índice de suicídios. Em comum têm a desesperança. Aquilo que parece ser transversal aos suicidas é a falta de esperança, o sentimento profundo de uma angústia sentida como sendo irremediável.
Desespero e angústia
Existem aspectos fundamentais que estão na base da ideia do suicídio e da sua concretização. O suicida encontra-se envolto numa dor psicológica intolerável, revela perda de autoestima e incapacidade para suportar a dor psicológica, contempla menos horizontes e desempenha menos tarefas, revela isolamento (sensação de vazio e de falta de amparo), desesperança e egressão (fuga como única solução para acabar com a dor intolerável). O estresse pós-traumático pode evoluir para quadros depressivos que se encontram associados a fortes sentimentos de desesperança. “Vivenciar uma experiência de total perda de controle sobre o seu desfecho, uma situação de perigo de morte iminente, é profundamente dramático e pode tornar-se numa situação patologizante”, afirma José Manuel Temóteo. O que parece acontecer é que se o passado é depressão e o futuro é ansiedade, o medo incontrolável e crônico é a porta de entrada de perspectivas negativas em relação ao futuro e um dos principais fatores de risco e preditores de suicídio.
A importância dos sintomas
“A capacidade de avaliar o risco de um doente se suicidar é”, de acordo com mesmo especialista, “a competência clínica mais exigente que um médico psiquiatra tem de adquirir”. Sintomas como desesperança, humor deprimido, sentimentos de culpa e/ou fracasso, desespero, inquietação ou agitação, insônia persistente, perda de peso, gestos lentos, discurso pobre, cansaço, isolamento social e ideação suicida (com plano definido) requerem atenção extrema. É ainda necessário dar especial atenção às pessoas que já tentaram suicídio anteriormente, indivíduos com história familiar de suicídio, adolescentes com depressão ou distúrbios de conduta e idosos nas fases iniciais de demência e estados confusionais.
Ao contrário do que vulgarmente se pensa, dois terços dos suicidas expressam as suas intenções, sendo que um terço procura o médico um mês antes do suicídio, pelo que comentários acerca da morte e do suicídio são sinais preocupantes. É muito frequente pessoas com comportamentos suicidiários darem sinais de alarme (preparar documentos, dar objetos pessoais de valor sentimental elevado, escrever cartas ou notas aos amigos) consciente ou inconscientemente, o que indicia a esperança de serem salvas. É necessário perceber que o suicídio é, sobretudo, o meio que encontram para dar fim à sua dor, o objetivo principal é parar o sofrimento e não exatamente por fim à sua vida. Quando ajudadas a tempo, as pessoas podem entender que há outras formas de resolver as suas circunstâncias e que há quem se encontre empenhado em ajudá-las. Mas também há casos em que o suicida quer realmente morrer, não dando qualquer sinal para não levantar suspeitas. Estes são, sem dúvida, os casos mais difíceis de prever e de intervir.
Texto baseado nos estudos da Psicóloga  Ana Celeste Sapp.

Luís Massilon Filho é psicólogo especialista em Psicomotricidade e Psicologia do Desenvolvimento e Professor dos Cursos de Psicologia e Pedagogia da AESA, além de Psicólogo Clínico.

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