Em sua 25ª edição, o Festival de Inverno de Garanhuns terá como grande homenageada uma das filhas da terra e uma das maiores escritoras da literatura feminina no Brasil: Luzilá Gonçalves Ferreira. Luzilá conta que recebeu com surpresa e muita alegria o anúncio da homenagem, que lhe foi comunicada pelo governador Paulo Câmara e pelo secretário de Cultura Marcelino Granja.
Luzilá vive no Recife desde os seis anos de idade, mas nutre até hoje tanto amor por Garanhuns que seu projeto atual é um romance sobre a índia Simoa Gomes, que fundou a cidade das flores a partir da doação de um terreno central, que serviu para a construção da antiga igreja de Santo Antônio. A escritora visita com frequência sua cidade natal e, nos dois primeiros anos do Festival de Inverno de Garanhuns, ministrou oficinas de literatura. Na 25° edição do evento, ela voltará a fazer parte do FIG, numa programação especial que em breve será anunciada.
“Sai de lá muito pequena, mas conservo uma afeição enorme, porque meus pais moraram lá a vida toda, adoravam Garanhuns. Minha irmã foi professora do Colégio 15 de Novembro, e a gente tinha muita relação com os missionários americanos que fundaram o colégio. Eles introduziram o uso de alface e outras verduras na comida da população. Antes era só arroz, feijão e farinha. Implantaram o gosto pelos legumes. Mamãe foi a primeira fotógrafa do interior, escrevia no jornal O Monitor. Ela comprou a casa onde nasci, que depois foi vendida e transformada no sanatório Tavares Correia (que depois virou o hotel da mesma família). De Garanhuns tenho muitas lembranças, seus jardins famosos, muitas histórias”, conta Luzilá. As lembranças são muito ricas e embalam tardes de conversas com os primos e amigos, cada vez que acontece uma visita.
LITERATURA – “A literatura como a arte em geral sempre foi coisa de homens. Mulheres não frequentavam academias de arte, de música, daí a quase inexistência de pintoras, compositoras, ao longo dos séculos. Então arte era coisa de homem. Homem não se questionava, homem existia. Enquanto, como disse Simone de Beauvoir, a mulher teve que se construir, não se nasce mulher”. A resposta de Luzilá foi dada ao escritor Raimundo Carreiro, numa longa entrevista publicada no site de literatura Interpoética. Defensora de uma literatura feminina, Luzilá ainda fez algumas ponderações, a ponto de dizer que “nem tudo que as mulheres escrevem pode ser classificado como literatura feminina. É aquela coisa de que falei: de que lugar de enunciação vem a voz enunciadora?”
O fato é que ela, como autora e coautora, publicou mais de 30 livros, entre contos, romances, ensaios, biografias. Em 2000, lançou um ensaio – Humana, Demasiado Humana – sobre a psicanalista Lou Andréas – Salomé, escritora russa, psicanalista, paixão da vida de Nietzsche, considerada uma mulher ” à frente do próprio tempo”. Na área do Jornalismo, Luzilá publicou Um Discurso Possível, ensaio sobre a Imprensa Feminina em Pernambuco, 1991-1997, apresentando as mulheres pernambucanas que atuaram como jornalistas, no século XIX. A respeito da poesia feminina, escreveu Em Busca de Thargelia, antologia em 2 volumes publicada em 1996. Em 2002, publicou o livro Presença Feminina, a pedido da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco, que traz o perfil de nove deputadas estaduais.
Obras Publicadas:
- Humana Demasiado Humana – Romance – Editora Rocco, Rio de Janeiro, 2000.
- Muito além do corpo – Romance- Editora Rocco – Rio de Janeiro
- A Garça mal ferida – Romance – Editora Nova Presença- Recife, 2002.
- Os rios turvos – Romance – Editora Rocco – Rio de Janeiro
- Voltar a Palermo – Romance- Editora Rocco – Rio de Janeiro
- Em Busca de Thargelia – Antologia em dois volumes da poesia feminina pernambucana no século XIX – CEPE – Fundarpe – Recife, 1991-1997
- Um Discurso Possível – Ensaio – CEPE – Recife, 1996
- Suaves Amazonas – Ensaio – UFPE – Recife, 1999
- Presença Feminina – Alepe – Recife, 2002
- No Tempo Frágil das Horas – Editora Rocco- Rio de Janeiro, 2003
Fundarpe
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