Foto: Claudio Soares
“É considerado um Lugar por estar inserido na grande Feira, e por abrigar um conjunto de práticas e comportamentos portadores de significados socioculturais específicos para o público, que é ator social deste espaço e atividade. Ao mesmo tempo, representa um todo complexo envolvendo costumes centenários ligados à instituição do escambo ou economia baseada na troca de bens, frequente no interior do território do Brasil colônia ou Império, em vista da precária e quase nula circulação de moedas...”
Para quem não conhece, este texto acima pertence ao dossiê que deu o título de Patrimônio Imaterial Brasileiro à Feira de Caruaru pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN. Nele, se lê a importância da Feira do Troca-Troca no conjunto das feiras que compõe ao nosso maior patrimônio cultural, junto com a Feira do Gado, mais antiga que a própria cidade.
Pois bem. Leio estarrecido nos blogs e portais locais que uma das mais tradicionais feiras da nossa cidade vai ser extinta, acabada, morta. A desculpa (bastante plausível para quem adora jogar para a plateia) é a de que ela se transformou num antro de marginais que vendem roubo, drogas, armas e coisas do tipo, gerando instabilidade aos comerciantes do local.
Os magnânimos pensantes que chegaram a esta conclusão, confortavelmente sentados para decidir sobre o que não conhecem e, pior, deveriam se esmerar em defendê-la dos abusos que são cometidos por quem eles afirmam ser, demonstram a mais completa e absurda insensatez e incompetência na gestão da Cultura em nossa cidade. Que as polícias queiram “erradicar” os seus problemas a qualquer custo, não cabe a mim julgar o mérito. De fato, eles têm muita coisa pra resolver. Que o Ministério Público seja palco de decisões difíceis e que, teoricamente, está cheio de gente competente pra intermediar o debate, ótimo. Quanta simplicidade! Quanta sagacidade! Decisão difícil? Que nada. A paisagem tá feia? A culpa é da janela!
Nós estamos assistindo nos últimos anos a um verdadeiro desmonte daquilo que entendemos como as maiores ilustrações da nossa Cultura. Não bastasse a falta de incentivos, esta sanha de acabar com nossa história começou com a derrubada da Vila do Forró, “que não possuía nenhum valor arquitetônico”, diziam muitos e cujo “processo” (olha só!) o próprio Ministério Público esqueceu. Isso mesmo. Esqueceu!!! Os mesmos responsáveis pela derrubada da Vila foram os mesmos que ergueram aquela maravilha da arquitetura chamada de Polo Cultural na estação ferroviária? Deve ter sido. Porque há cinco anos convivemos com aquele monumento “definitivo” e que só tem serventia durante o São João, quando são renovadas sua estrutura fétida, suja e fadada a causar um incêndio de proporções gigantescas no centro da cidade.
Faço aqui uma ótima sugestão, modéstia à parte. Vamos pacificar a Feira de Caruaru? Podemos começar pela Feira do Troca, o que acham? Depois poderíamos passar para a Casa de Cultura (aquela que aprovamos quase meio milhão de Reais junto ao mesmo IPHAN no projeto de revitalização, lembram?). E depois, os mercados de Carne e Grãos. E depois, a Feira de Frutas, a de Couro, a de Flores, a de... tudo, enfim. Podem até se vangloriar a qualquer tempo deste feito, como o Morro (ou seria Monte?) Bom Jesus, recentemente “pacificado”. Mas, se após tudo isso, não conseguirem, por favor, não extingam, acabem, matem a Feira de Caruaru. Seria outra vergonha.
Quanto à Fundação de Cultura eu nem falo mais. Não há nada a dizer sobre quem quase também foi extinta, acabada, morta no início do ano, portanto moribunda. Não se concebe um governo de uma cidade da envergadura da Cultura de Caruaru insista numa estrutura que ele mesmo não quer. Com dirigente que é sem nunca ter sido.
Colaboração: Claudio Soares
(Assessor parlamentar na Alepe e foi Coordenador Especial de Ações Culturais da Fundação de Cultura entre 2001 e 2008).
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