O fenômeno é recorrente na
política brasileira, quiçá mundo afora: quando ingentes são os desafios
e complexo o embate eleitoral, emerge o discurso messiânico e
descomprometido, pleno em pirotecnia e carente de concretude.
Na história republicana
brasileira os exemplos mais emblemáticos são o de Jânio Quadros,
1960-61, e Fernando Collor, 1989-92. Ambos produtos da política
partidária mais tradicional, que entretanto não tiveram pejo de se
apresentarem como “novidade”, esbravejando contra partidos e
políticos. Ao invés de solução para os problemas postos na ordem do
dia, bravatas e lances de efeito, tais como o combate à existência de
cargos comissionados na gestão pública, que juraram extinguir ou reduzir
a quase nada (e jamais o fizeram!).
No exercício do governo
revelaram-se em sua inconsequência e produziram crises institucionais de
grande magnitude. Jânio renunciou antes de completar um ano no cargo.
Collor ensejou o histórico movimento pelo impeachment e também
renunciou.
Em sua obra clássica O 18
Brumário de Luis Bonaparte, Karl Marx diz que a História não se repete, a
não ser como farsa. Assim tem sido, aqui e em outras terras.
Em alguns pleitos, na
maioria deles, aliás, candidatos messiânicos e falastrões causaram certo
frisson, mas não lograram a vitória. Os poucos que alcançaram êxito
eleitoral, semearam o caos administrativo e aguçaram as mazelas que
prometiam resolver.
Presume-se que a
consciência social avançada se constrói mediante longo e tortuoso
aprendizado. O povo tem memória, sim. E a cada pleito faz-se mais atento
e capaz de separar o joio e o trigo. Daí os limites dos que surgem à
moda Jânio-Collor: já não conseguem enganar como antes, salvo na
ausência de concorrentes aptos a galvanizar o apoio e as expectativas do
eleitorado.
Nos dias que correm,
sobretudo em cidades médias e grandes, a dimensão dos problemas,
desafios e possibilidades é tal que o embate eleitoral não pode ser
travado a base de frases de efeito e gestos camaleônicos. Tampouco
através de artifícios midiáticos destinados a desacreditar o concorrente
diante do eleitorado. Exige antes de tudo avaliações precisas da
realidade concreta que se deseja mudar e propostas consistentes, que
além de corretas se mostrem factíveis.
Arroubos infantis, como
passar uma régua imaginária divisora de águas entre tudo o que se fez na
história da cidade – tido como obra de poderosos que erraram, todos
eles (sic) – e o porvir anunciado pelo candidato “apolítico”, certamente
já não encontram ressonância social, salvo entre parcelas desavisadas e
ingênuas, que se fazem momentaneamente presa da demagogia.
Entre a pirotecnia e a
concretude há uma distância abissal, certamente percebida pela maioria
do eleitorado, cada vez mais exigente em suas escolhas.
Texto: Luciano Siqueira
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