A Alemanha foi à primeira
nação industrializada a ter um plano de abolir a energia nuclear do seu
território. A data para por fim a esta era de insegurança foi dia 29 de maio de
2011, por decisão da coalização de governo da chanceler Ângela Merkel. Até 2022
não haverá mais reatores nucleares neste país emblemático, particularmente para
o Brasil, que assinou em 1975 um acordo de cooperação técnico-científico-econômico
prevendo a instalação de 8 usinas nucleares em nosso território. Juntas, as 17
usinas existentes em solo alemão que produziam menos de 1/4 da energia alemã
serão desativadas. Este exemplo está sendo seguido, e paises como a Itália,
Áustria, Suíça, Bélgica, Japão, entre outros, já começaram a revisar suas
políticas nucleares.
A tomada de decisão do
governo alemão de deixar de usar a energia nuclear mostra que basta visão e
vontade política para livrar um país desta fonte de energia indesejável, pelo perigo
que representa; suja pelos resíduos que produz, e não se sabe o que
fazer com eles; e cara, implicando em tarifas mais onerosas para o
consumidor. Enquanto a Alemanha virava a página do nuclear, técnicos e
políticos brasileiros duvidavam que este país pudesse “sobreviver” sem a
nucleoeletricidade. Os mais exaltados alegavam até que o desligamento
progressivo das usinas nucleares forçaria o país a importarem combustíveis
fosseis, contribuindo assim para o aquecimento global. Mais uma vez estes
“experts” (?) em energia mostraram o quanto estavam errados.
Passado pouco mais de um ano
da decisão histórica, no dia 1 de agosto de 2012 a Associação Nacional de Energia e Água (BDEW) anunciou
que 25 % de toda energia consumida pela Alemanha no primeiro semestre deste ano
foi gerada a partir de fontes renováveis, e que todas estas fontes registraram
crescimento no período comparado a 2011, quando representavam 17% do consumo
energético total.
O setor eólico forneceu 9,2%
de toda energia demandada pela Alemanha, produzindo 24,9 bilhões de kWh,
respondendo pela maior contribuição das renováveis. A biomassa representou 5,7%
da demanda, produzindo 15,3 bilhões de kWh. E o setor fotovoltaico 5,4%. Sendo
este o que mais cresceu, 47%, aumentando sua geração do 1º semestre de 2011 de 9,8
bilhões de kWh, para igual período em 2012, de 14,4 bilhões de kWh.
O
recado parece dado para o Brasil e para o mundo. As fontes renováveis podem e
devem substituir os combustíveis fósseis, além da indesejável energia nuclear.
No Brasil,
apesar do crescimento das instalações eólicas, ainda sua participação na demanda
energética é pífia, menos que 2%. Apesar de todo o estardalhaço midiático que
governos estaduais e federal fazem, as políticas de incentivo desta fonte de
energia ainda são pontuais e pouco expressivas diante do enorme potencial estimado
de mais de 350 GW. O caso mais bizarro, que demonstra na prática a falta de
interesse, diz respeito ao atraso
incompreensível, na atualização do Atlas Eólico Brasileiro de responsabilidade
do Centro de Pesquisas da Eletrobrás (CEPEL), instrumento imprescindível para
atração de novas instalações.
Com
relação aos agrocombustíveis, mesmo com a propaganda encantando o mundo, em
torno da produção do etanol e do agrodiesel, a realidade é outra. Etanol está sendo
importado, e o preço se aproximando mais e mais da gasolina, resultando numa
retração do consumo. E em relação à propalada e alardeada alavancagem da
agricultura familiar, com as oleaginosas (quem não lembra dos discursos pró-mamona
na região nordeste como redenção dos pequenos agricultores) para a fabricação
do agrodiesel, nada aconteceu. Hoje mais de 3/4 da produção do agrodiesel é
oriunda da soja.
Sobre
a energia solar fotovoltaica, nem se fala. Mesmo tendo alguns projetos privados
implantados nas arenas esportivas, e uma usina de 1 MW no interior do Ceará, continua
sendo apenas “traço” na matriz energética nacional. Existe uma expectativa com
a resolução da Aneel 482/2012 de 17 de
abril ultimo, estabelecendo o acesso da pequena geração distribuída na rede
elétrica, e assim estimular a energia fotovoltaica instalada em domicílios e
pequenos comércios. Mesmo com mais de 20 anos de atraso em relação à Alemanha
que lançou o projeto “1000 telhados solares” em 1991, no nosso caso “a esperança
é a última que morre”. O aquecimento solar da água ainda patina com a
iniciativa “Cidades Solares”, legislação municipal que atende hoje a menos de
50 municípios brasileiros. E o programa “Minha Casa, Minha Vida”, incorporando
sistemas de aquecimento solar, ainda é uma incógnita.
O
Brasil é bem ensolarado, possui muita água, fortes ventos e grandes áreas
agrícolas para a produção da biomassa, podendo utilizar tudo isso para seu
desenvolvimento e assim melhorar a qualidade de vida de sua população respeitando
o meio ambiente. Que pais é este que opta pela energia nuclear, combustíveis
fósseis e mega-hidrelétricas na região Amazônica?
Heitor Scalambrini
Costa
Professor da
Universidade Federal de Pernambuco
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