O Governador Eduardo Campos deu uma entrevista a Folha de São Paulo que foi publicada neste domingo e falou sobre Dilma Rouseff, a briga PSB e PT e eleições de 2014.
Confiram a entrevista dada a jornalista Natuza Nery na íntegra:
Visto por setores do PT como virtual candidato à Presidência em 2014, o
governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos,
afirma que o partido da presidente Dilma Rousseff a atrapalha mais do
que o PSB.
Campos diz, contudo, que apoiará a eventual campanha de reeleição de Dilma, insinuando que seu projeto de poder é para 2018.
Nas últimas semanas, PSB e PT romperam em Recife, Fortaleza e Belo Horizonte.
Folha - Que crise é essa do PSB com o PT?
Eduardo Campos - Não damos dificuldades para o governo Dilma.
Significa que nosso partido vai ser satélite do PT? Não é da nossa
história, nem da nossa política.
É essa a raiz da discórdia, não querer ser satélite do PT?
O que tem Fortaleza a ver com Belo Horizonte? São Paulo a ver com
Recife? O PSB agora virar inimigo oculto do PT chega a ser ridículo. Ser
colocado como inimigo número um e a gente ver históricos adversários
virarem amigos de sempre. Está errado.
O senhor está falando de Paulo Maluf [que se aliou ao PT em São Paulo?
Estou falando de muitos outros, não só do Maluf. Você vê em Curitiba:
Gustavo Fruet [ex-tucano e ex-deputado de oposição] virar o melhor amigo
do PT, e o PSB virar o inimigo? Nós não vamos fazer o jogo de alguns,
que querem afastar de Dilma aqueles que têm mais identidade com o
governo dela.
O sr. está falando do ex-ministro José Dirceu?
De todos. Se estiver nisso, falo dele também. A história que nos trouxe
até aqui não deve colocar dúvida na cabeça do presidente Lula, nem na
minha, nem na da presidente Dilma sobre a qualidade da relação que
temos.
Mas chegou perto, né? Ele chegou a ter essa dúvida...
Vamos ter que ter paciência para esperar a história daqui pra frente.
Quem viver 2014, verá. Porque eu já vi muita gente ser subserviente,
agradável, solidária em meio de mandato e, quando bate a primeira crise,
muda imediatamente de lado. Como nunca mudamos de lado, eu sei onde vou
estar em 2014.
Onde?
Do lado que sempre estive. Acho que o PSB deve em 2014 apoiar Dilma para se reeleger presidente.
O sr. não será candidato...
E quem disse que eu seria?
Seus correligionários...
Toda vez que fui candidato, eu disse que era candidato. Ser candidato
contra Dilma só porque eu quero ser? Ela está na Presidência e tem a
prerrogativa da reeleição. Para a reeleição de Dilma, o problema não
somos nós.
Qual é o problema?
O próprio partido dela [o PT] cria mais problema para ela do que o PSB.
No sentido que vocês noticiam e no sentido de tentar tirar de perto dela
quem pode ajudá-la.
Se a economia erodir a popularidade da Dilma e Lula não for candidato, o sr. sai para a Presidência?
Não trabalho com essa hipótese. Temos debates muito mais importantes do
que [debater] quem será prefeito dessa ou daquela cidade.
O que está em jogo é o ciclo de expansão econômica com inclusão social. O
consumo ainda pode dar algum resultado, mas chegou a hora de fazermos
um grande esforço para alavancar investimentos públicos e privados. Essa
que é a pauta brasileira, não essa futrica.
O PSB está avançando nos Estados, no Congresso. Vocês pedirão a vice do PT em 2014?
Nunca fizemos isso. Agora mesmo, em São Paulo, o PT escolheu a [deputada
Luiza] Erundina [do PSB, para vice do petista Fernando Haddad]. Lula
buscou um quadro da minha geração, o Haddad. Se fôssemos o inimigo
número um do PT, não teríamos sido os primeiros a apoiá-lo. Colocamos a
vice que o PT entendia que era a que mais ajudava, a Erundina.
Ela não ajudou muito...
Quando ela saiu, liberamos Haddad para escolher o nome que quisesse. Foi isso que fizemos com largueza de coração.
Com tanta frustração, o que o segura ao lado do PT?
Não vou sair desse itinerário. Temos uma frente política construída há
muitos anos, que ajudou o Brasil a melhorar. Claro que minha relação com
o presidente Lula, que eu conheci ainda menino, a ajuda que ele me deu e
a meu Estado eu prezo muito.
O PT diz que o senhor é uma espécie de monstro criado por Lula, que o ajudou muito com recursos.
Pago preço do ciúme que muitos têm. Mas Lula sabe também que conta
conosco. Em 1989, [o avô de Campos, Miguel] Arraes era governador de
Pernambuco, tendo voltado de 16 anos do exílio, e o PT gritava na porta
do palácio: "Arraes, caduco, Pinochet de Pernambuco". Mas isso não
impediu meu avô de abraçar a primeira eleição de Lula, porque nós não
fazemos política tendo como referência a guerra de espaço, de aparelhar,
de ter uma garrafa a mais [no governo]. Nossa referência na política é o
interesse do povo e do país.
O PT aparelha?
Não. Estou dizendo que somos diferentes, formas diferentes de pensar,
ver o mundo. Você não pode imaginar que o Brasil deste tamanho vai ter
um partido único, que vai ser dono da verdade, dono do poder, dos 5.000
municípios, dos 27 Estados, do Brasil, por um século. Você não pode
imaginar que esse seja o projeto do povo brasileiro. É bom que tenha
alternância de poder. É importante ter a perspectiva do contraditório.
Em 2014 serão 12 anos de PT no poder. É muito?
Acho que dá para ter 16. Eu só, não. A sociedade também está achando. Como o PSDB está em São Paulo há 16 anos.
E está bom 16 anos de PSDB em São Paulo?
O povo achou que sim.
Dá para ter 20 anos de PT?
Vinte? Há um ciclo que vai se abrir no Brasil depois de 2014. É um ciclo
até geracional, tanto na oposição quanto no campo do governo. Agora,
atropelar isso em nome de projeto pessoal não é uma coisa correta. Dilma
está presidente da República sem nunca ter pedido para ser candidata.
A base aliada reclama de Dilma. O senhor faz algum reparo ao estilo dela?
Ela tem a base muito ampla. Acho que não há dificuldade insuperável.
Vamos ajudá-la a proteger o Brasil da crise. Não podemos permitir que
joguem a presidente nesse debate da eleição municipal.
Mas ela entrou na articulação de Belo Horizonte.
Em BH eu compreendo, da mesma forma que ela compreende minha articulação
aqui em Recife. Precisamos dar força a ela para o governo ganhar [na
economia] o ano de 2012. Dilma não tem por que jogar carga ao mar.
É um pedido para ela não ajudar Humberto Costa [candidato petista de Recife?
Não. Tem coisas que não se pede, eu sei que ela é justa.
Se 2014 é o ano da Dilma, e 2018 será um novo ciclo, não há mais espaço para o Lula?
Lula sempre terá espaço. Agora, o que eu tenho ouvido dele é que o seu grande objetivo é ajudar Dilma a se reeleger.
Matéria da Folha de São Paulo on Line
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