Para nós, nordestinos que somos, 2012 será um ano para redescobrirmo-nos. O centenário de nascimento de Luiz Gonzaga a isto nos convida. Para conhecermo-nos enquanto nordestinos talvez não haja modo melhor, mais prazeroso, enriquecedor, alargador de fronteiras e olhares sobre si e sobre nossa terra do que deitar numa rede e ouvir o gigante de Exu. Um Cervantes sertanejo, um Molière a cavalo, um Machado de Assis de gibão, um Euclides da Cunha poeta, um Josué de Castro aboiador, um Gilberto Freyre vaqueiro, um Joaquim Nabuco conversador e afeito a apreciar o cantar de passarinhos. Grandeza; sem outras palavras que parecem sempre diminutas posto que jamais conseguirão conter nelas a força poética de sua obra.
Como poderíamos equacionar o maravilhoso que se apresenta em cada verso. A multiplicidade de cores, sabores e cheiros; os tipos humanos; as contingencialidades enfrentadas; as lutas, as lidas, as problemáticas e ao mesmo tempo a beleza de uma região. A narrativa que nos conduz a um universo onde homens simples, de rostos duros e mãos fortes, honra inabalável e corações sempre desejosos de colos aquecidos e cheiro de mulher, transformam-se em heróis idílicos, em seres iluminados de sabedoria, em apreciadores de Dionísio, solidários e afetuosos como dom Helder e Mãe Menininha, dignos como o deveriam ser todo homem e mulher; corajosos como samurais. Estaríamos à frente de Hemingway, Emile Zola ou de Pablo Neruda; não, apenas de Seu Luiz e de sua sanfona.
Numa brevíssima amostra: Seu Luiz registrou o sofrimento e as belezas do meio ambiente (Crepúsculo sertanejo, Xote ecológico, Luar do sertão, Lembrança da primavera, Deixe o rio desaguar...); cantou a preciosidade dos festejos juninos e da agricultura (Danado de bom, A festa do milho, Algodão, O homem da terra, Sabiá, Olha pro céu...); contou a história, o sertão e seus signos, seus pássaros e o clima (Aquarela nordestina, Alvorada da paz, Acauã, Terra, A morte do vaqueiro, A volta da asa branca, Tropeiros da Borborema, Assum preto...); descreveu respeitosamente e elevou o nome do seu estado natal e de suas regiões (Meu Araripe, Meu Pajeú, Feira de Caruaru, Adeus Pernambuco, Rio Pajeú...); relatou eventos históricos, a religiosidade, o progresso do país e seus protagonistas (Marcha da Petrobrás, Vozes da seca, Paulo Afonso, Nordeste pra frente, Ave Maria Sertaneja,...) além de incluir a sublime e austera cultura de um povo que outrora sofria mais veementemente com os problemas sociais, políticos e climáticos (Menestrel do sol, ABC do sertão,Vida ruim, Pai Nosso...).
Luiz Gonzaga foi, é e será um artista que contribuiu inimaginavelmente para contar a história nordestina e defendê-la durante toda a sua vida. Um homem que por si só traduz-se em coleções de livros, os quais seriam todos notas de rodapé perto de sua força magnética. Honras ao Rei: proclamador do império do baião.
Fonte: Diario de Pernambuco
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