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Dilma na Onu: sem completo de vira-lata

A presidente Dilma Rousseff durante discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York (Foto: Reuters)
Foto: Reuters

Eu estava lendo tudo o que foi dito na quarta-feira (21), sobre o fato histórico vivido pela nossa Presidenta Dilma Rouseff que abrir a Assembléia da ONU.
Nas fotos a sensação que se tinha era de que o Brasil, naquele momento era o alvo do mundo inteiro e como a nossa presidenta fez bonito.
De todos os texto que eu li, o que mais me chamou a atenção foi do querido Rodrigo Viana do Blog Escrinhador, que descreveu com maestria aquele momento.

Vou dividir com vocês o texto na íntegra e os convido a conhecer um dos blogs mais inteligentes do nosso país.

Dilma na Onu: sem completo de vira-lata
Por Rodrigo Viana

Na abertura da Assembléia Geral da ONU, ao falar para o mundo, Dilma destacou a condição feminina e a especificidade do Brasil no mundo. Emocionou-me a menção que a presidenta fez à lingua portuguesa. Lembrei-me de certo presidente (brasileiro, até prova em contrário) que foi à França e preferiu falar em Francês (!) na Assembléia Nacional daquele país. Era o presidente que certa elite brasileira considerava ”cosmopolita”. Um cosmopolita que preferia falar em francês. Terminou o discurso dizendo “Vive la France!!”. Patético.

Dilma não só falou em Português, como falou sobre as especificidades do mundo que fala Português. Usou o idioma como gancho para lembrar de palavras que são “femininas” na Língua Portuguesa: alma, esperança, vida.

Mas o discurso na Assembléia Geral da ONU não foi importante (só) por isso. Foi importante porque Dilma se diferenciou da baboseira (neo) liberal que ainda sobrevive no chamado mundo desenvolvido (e sobrevive também entre “colunistas” e “analistas” que pensam o Brasil feito girafas: têm os pés na América do Sul e a cabeça em Londres ou Washington). Dilma falou na necessida de controlar capitais. Os colunistas de economia brazucas devem ter sofrido uma síncope nervosa. Controle? Capitais devem ser livres. Controle, só para as pessoas.


Dilma foi corajosa ao falar da crise econômica, ponderada ao defender o Estado Palestino e firme ao reafirmar a necessidade de reformar a ONU e as instâncias decisórias mundiais.

Dilma foi a primeira mulher a abrir a Assembléia Geral da ONU. Mas o discurso dela foi histórico por muitos outros motivos. Lembrou-me a frase lapidar de Chico Buarque, ao dizer, na reta final da eleição de 2010, porque apoiaria Dilma: “é um governo que fala de igual para igual, não fala fino com Washington e não fala grosso com a Bolívia e o Paraguai”.



E, abaixo, uma pequena seleção dos trechos que considero mais relevantes. 
   
CONDIÇÃO FEMININA – IGUALDADE E ORGULHO
“Pela primeira vez, na história das Nações Unidas, uma voz feminina inaugura o Debate Geral. É a voz da democracia e da igualdade se ampliando nesta tribuna que tem o compromisso de ser a mais representativa do mundo. É com humildade pessoal, mas com justificado orgulho de mulher, que vivo este momento histórico.”

LÍNGUA PORTUGUESA – ESPERANÇA E CORAGEM
“Na língua portuguesa, palavras como vida, alma e esperança pertencem ao gênero feminino. E são também femininas duas outras palavras muito especiais para mim: coragem e sinceridade. Pois é com coragem e sinceridade que quero lhes falar no dia de hoje.”

FALANDO GROSSO – PUXÃO DE ORELHA NOS “DESENVOLVIDOS” 
“Agora, menos importante é saber quais foram os causadores da situação que enfrentamos, até porque isto já está suficientemente claro. Importa, sim, encontrarmos soluções coletivas, rápidas e verdadeiras. Essa crise é séria demais para que seja administrada apenas por uns poucos países. Seus governos e bancos centrais continuam com a responsabilidade maior na condução do processo, mas como todos os países sofrem as conseqüências da crise, todos têm o direito de participar das soluções. Não é por falta de recursos financeiros que os líderes dos países desenvolvidos ainda não encontraram uma solução para a crise. É, permitam-me dizer, por falta de recursos políticos e algumas vezes, de clareza de ideias.”


RECADO AOS NEOLIBERAIS – CONTROLAR  OS MERCADOS
“Urge aprofundar a regulamentação do sistema financeiro e controlar essa fonte inesgotável de instabilidade. É preciso impor controles à guerra cambial, com a adoção de regimes de câmbio flutuante. Trata-se, senhoras e senhores, de impedir a manipulação do câmbio tanto por políticas monetárias excessivamente expansionistas como pelo artifício do câmbio fixo. ”

A CONDIÇÃO BRASILEIRA – OTIMISMO MODERADO 
“É significativo que seja a presidenta de um país emergente, um país que vive praticamente um ambiente de pleno emprego, que venha falar, aqui, hoje, com cores tão vívidas, dessa tragédia que assola, em especial, os países desenvolvidos. Como outros países emergentes, o Brasil tem sido, até agora, menos afetado pela crise mundial. Mas sabemos que nossa capacidade de resistência não é ilimitada. Queremos – e podemos – ajudar, enquanto há tempo, os países onde a crise já é aguda.”

ENFRENTAR A RECESSÃO – AJUDA VEM DOS EMERGENTES
“Há sinais evidentes de que várias economias avançadas se encontram no limiar da recessão, o que dificultará, sobremaneira, a resolução dos problemas fiscais. Está claro que a prioridade da economia mundial, neste momento, deve ser solucionar o problema dos países em crise de dívida soberana e reverter o presente quadro recessivo. Os países mais desenvolvidos precisam praticar políticas coordenadas de estímulo às economias extremamente debilitadas pela crise. Os países emergentes podem ajudar.”

RECADO AOS EUA E OTAN - CONTRA INTERVENÇÕES MILITARES 
“É preciso que as nações aqui reunidas encontrem uma forma legítima e eficaz de ajudar as sociedades que clamam por reforma, sem retirar de seus cidadãos a condução do processo. Repudiamos com veemência as repressões brutais que vitimam populações civis. Estamos convencidos de que, para a comunidade internacional, o recurso à força deve ser sempre a última alternativa. A busca da paz e da segurança no mundo não pode limitar-se a intervenções em situações extremas (…)  O mundo sofre, hoje, as dolorosas consequências de intervenções que agravaram os conflitos, possibilitando a infiltração do terrorismo onde ele não existia, inaugurando novos ciclos de violência, multiplicando os números de vítimas civis.”

REFORMA DA ONU – BRASILNO CONSELHO DE SEGURANÇA
“O debate em torno da reforma do Conselho já entra em seu 18º ano. Não é possível, senhor Presidente, protelar mais. O mundo precisa de um Conselho de Segurança que venha a refletir a realidade contemporânea; um Conselho que incorpore novos membros permanentes e não-permanentes, em especial representantes dos países em desenvolvimento. O Brasil está pronto a assumir suas responsabilidades como membro permanente do Conselho.”
DIREITOS HUMANOS , SIM – PARA TODOS 
“Queremos para os outros países o que queremos para nós mesmos. O autoritarismo, a xenofobia, a miséria, a pena capital, a discriminação, todos são algozes dos direitos humanos. Há violações em todos os países, sem exceção. Reconheçamos esta realidade e aceitemos, todos, as críticas. Devemos nos beneficiar delas e criticar, sem meias-palavras, os casos flagrantes de violação, onde quer que ocorram.”

ESTADO PALESTINO – DEFESA FIRME, SEM MEIAS PALAVRAS 
“Lamento ainda não poder saudar, desta tribuna, o ingresso pleno da Palestina na Organização das Nações Unidas. O Brasil já reconhece o Estado palestino como tal, nas fronteiras de 1967, de forma consistente com as resoluções das Nações Unidas. Assim como a maioria dos países nesta Assembléia, acreditamos que é chegado o momento de termos a Palestina aqui representada a pleno título. O reconhecimento ao direito legítimo do povo palestino à soberania e à autodeterminação amplia as possibilidades de uma paz duradoura no Oriente Médio. Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz com seus vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade política em seu entorno regional.”

COMBATE À POBREZA – RECEITA BRASILEIRA
“O Brasil descobriu que a melhor política de desenvolvimento é o combate à pobreza. E que uma verdadeira política de direitos humanos tem por base a diminuição da desigualdade e da discriminação entre as pessoas, entre as regiões e entre os gêneros. O Brasil avançou política, econômica e socialmente sem comprometer sequer uma das liberdades democráticas. Cumprimos quase todos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, antes 2015. Saíram da pobreza e ascenderam para a classe média no meu país quase 40 milhões de brasileiras e brasileiros. Tenho plena convicção de que cumpriremos nossa meta de, até o final do meu governo, erradicar a pobreza extrema no Brasil.”

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