Foto: Amannda Oliveira
Aos Críticos
Senhores críticos, basta,
Deixai-me passar sem pejo
Que um trovador sertanejo
Vem seu pinho dedilhar
Eu sou da terra onde as almas
São todas de cantadores
Sou do Pajeú das Flores
Tenho razão de cantar
Não sou um Manuel Bandeira
Drumond, nem Jorge de Lima
Não espereis obra prima
Deste matuto plebeu
Eles cantam suas praias
Palácios de porcelana
Eu canto a roça, a choupana
Canto o sertão, que ele é meu.
Vocês que estão no Palácio
Venham ouvir meu pobre pinho
Não tem o cheiro do vinho
Das uvas frescas do Lácio
Mas tem a cor de Inácio
Da serra da catingueira
Um cantador de primeira
Que nunca foi numa escola.
Pois meu verso é feito a foice
Do cassaco corta a cana
Sendo de cima pra baixo
Tanto corta como espana
Sendo de baixo pra cima
Voa do cabo e se dana.
O meu verso vem da lenha
Da lasca do marmeleiro
Que vem do centro da mata
Trazida pelo leenheiro
E quando chega na praça
É trocada por dinheiro.
O meu verso tem o cheiro
Da carne assada na brasa
Quando a carne é muito gorda
Esquentando, a graxa vaza
É a graxa apagando o fogo
E o cheiro invadindo a casa.
Aqui é a minha oficina
Onde conserto e remendo
Quando o ferro é grande eu corto
Quando é pequeno, eu emendo
Quando falta ferro, eu compro
Quando sobra ferro eu vendo
Meu verso é feito a cigarra
Num velho tronco a sonhar
Que canta uma tarde inteira
E só para quando estourar
Que eu troco tudo na vida
Pelo prazer de cantar.
Quem foi que disse
Professor de que matéria
Que o sertão só tem miséria
Que só é fome e penar
Que é a paisagem
Da caveira duma vaca
Enfiada numa estaca
Fazendo a fome chorar.
Não pode nunca imaginar
O som que brota
Da cantiga de uma grota
Quando chuva cai por lá
O cheiro verde
Da folha do marmeleiro
E o amanhecer catingueiro
No bico no sabiá.
Tem mulungu do vermelho
Mas vivo e puro
E tem o verde mais seguro
Que tinge os pés de juá
A barriguda mostrando
O branco singelo
E a força do amarelo
Na casca do umbu-cajá.
Criou-se o estigma
Do matuto pé de serra
Que tudo que fala erra
Porque não pôde estudar
Só fala versos matutos, obsoletos
Feitos por analfabetos
Que mal sabem se expressar.
Falam no sul com deboche
Que isso é cultura
De só comer rapadura
Como se fosse manjar
Saibam que aqui
tem abelha de capoeira
E o mel da flor catingueira
É mais doce que o mel de lá.
Temos poesia que exalta
O que é sentimento
E a força do pensamento
De quem sabe improvisar
Tem verso livre
Tem verso parnasiano
E mesmo longe do oceano
Tem galope à beira-mar.
Zefa Tereza me ensinou
Que prum caboclo
Entrar na roda de côco
Tem que saber rebolar
Soltar um verso na roda
Que se balança
E no movimento da dança
Fazer o côco rodar.
Foto: Amannda Oliveira
Muitos deles jamais haviam passado na calçada da Câmara de Vereadores de Arcoverde, mas na noite da última sexta-feira (03), eles foram os donos da Casa James Pacheco. Estou falando dos homenageados da segunda noite do Projeto Sextas-feiras culturais de autoria do vereador Luciano Pacheco em parceria com o Coletivo Cultural de Arcoverde -COCAR que acontece toda primeira sexta-feira de cada mês na cidade de Arcoverde.
Foto: Amannda Oliveira
Os grandes homenageados da noite foram os emocionados poetas, aboiadores, cordelistas e declamadores da cidade de Arcoverde que levaram a plenária do poder legislativo a se encher de poesia.
Foto: Amannda Oliveira
Foto: Amannda Oliveira
Quem abriu a noite foi a estudante Karina Cândido que declamou uma poesia. Estavam presentes os vereadores Luciano Pacheco, Luiza Margarida, Jairo Freire presidente interino da câmara e Niltão.
Assim como, Beto da Oara, o advogado Gaudêncio Vilela, Damião Lucena do Sintema, Suedson Neiva do Centro Integrado de Cultura e Arte e Lula Moreira.
Foto: Amannda Oliveira
Foto: Amannda Oliveira
Os homenageados da noite foram:
- Nando da retífica representando os declamadores;
- Jailson filho falecido aboiador Zé Heleno e Veranez representando os aboiadores;
- José Monteiro representando a poesia popular;
- George Silva o poeta carinhosamente chamado de mal assombrado declamou vários poemas e;
- Lídio Vaz e Manoel de Lima e Bem te vi e Sabiá representando os repentistas.
Todo estavam extremamente emocionados e contagiaram até os vereadores Jairo Freire e Niltão de fizerem declamações poéticas e foram ovacionados pelo público.
Parabéns a Câmara e ao COCAR por mais uma noite de homenagens aqueles que constroem a história de Arcoverde.
Foto: Amannda Oliveira
Foto: Amannda Oliveira
Foto: Amannda Oliveira
Foto: Amannda Oliveira
Foto: Amannda Oliveira
Foto: Amannda Oliveira
Foto: Amannda Oliveira
Foto: Amannda Oliveira
Foto: Amannda Oliveira
Foto: Amannda Oliveira
Foto: Amannda Oliveira
A próxima noite de homenagem será voltada para as artes cênicas.
Amannda Oliveira
4 Comentários
Uma homenagem mais que gratificante aos poetas regionais e violeiros. Parabens a camara de Arcoverde por esse incentivo a nosso cultura nordestina. E como homegem a Arcoverde deixo aqui um dos meus cordéis que fiz em homenagem a minha cidade.
ResponderExcluirARCOVERDE É CORAÇÃO
MINHA SAUDADE É CANTAR
De saudade vou morrer
Vige Maria seu doutor
Sou um poeta sonhador
Na capital fui viver
Hoje eu posso descrever
A vida que tive lá
Da cidade eu vou falar
O portal do meu sertão
Arcoverde é coração
Minha saudade é cantar.
Sinto no peito uma dor
Já num tenho mais idade
Pra voltar a minha cidade
Digo a você seu doutor
La ficou meu grande amor
Bem distante foi morar
No sertão quero sonhar
Nos versos da canção
Arcoverde é coração
Minha saudade é cantar.
No mês de junho é animado
Tem forrozeiro e poesia
Cantando com maestria
No palhoção encantado
Tem xote, baião e xaxado
No cruzeiro, coco a dançar
No céu fogos, balão no ar
No festejo do são João
Arcoverde é coração
Minha saudade é cantar.
Seu doutor faça o favor
Recomende um remédio
Pra acabar esse meu tédio
No cordel faço louvor
Peço ao santo protetor
De duas asas, quero voar
Pra bem longe do meu mar
La pras bandas do sertão
Arcoverde é coração
Minha saudade é cantar.
Bel Salviano
Oi Iata, seja bem vindo. Que lindo o cordel que vc nos deixou aqui no Blog. Apareça sempre. Abraços
ResponderExcluirMinha terra Arcoverde,
ResponderExcluirRecanto de forrozeiro
O forró de lá é bom
Tem vaqueiro e guerreiro
Arcoverde da Saudade
É terra de brasileiro
Arcoverde n'alta serra
No topo a cruz do Senhor
Resplandece a beleza.
Arcoverde é esplendor
Grande marco de vitórias
Reza e canta seu louvor!
Eu parti de Arcoverde
senti no peito a saudade
E fui pra cidade grande
Vivi outra realidade
Fui morar à beira-mar
Não esqueço essa cidade
Na poesia viajei
pra caatinga do sertão
No palco vi um cantador
Cantando pra multidão
Dedicando ao sonhador
O forró da tradição.
Arcoverde é o portal
Do meu amado sertão
No reencontro de amigos
Arcoverde é coração
De quem volta a cidade,
No festejo do São João.
bel Salviano
Olá Bel, seje bem vinda sempre. Um Abraço
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